Uma transação de US$ 500 milhões envolvendo ativos da mineradora Anglo American colocou Goiás no centro de uma acirrada disputa internacional por minerais estratégicos. A estatal chinesa MMG comprou a planta de níquel em Barro Alto, no norte do estado, além de outra unidade em Niquelândia e dois projetos em desenvolvimento no Pará e Mato Grosso — marcando sua entrada no mercado brasileiro.
A operação, revelada pela Folha de S. Paulo, gerou forte reação da empresa europeia Corex Holding, controlada pelo bilionário turco Robert Yüksel Yıldırım. A Corex alega ter oferecido cerca de US$ 900 milhões, quase o dobro do valor pago pela MMG, e agora acionou tanto o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no Brasil quanto a Comissão Europeia, sob alegações de concentração de mercado e riscos à segurança de suprimento da União Europeia.
“Vou ser muito honesto. Meu preço foi de US$ 900 milhões. Coloque-se no meu lugar. Quando você dá um preço muito superior, espera pelo menos uma ligação explicando”, afirmou Yıldırım à Folha.
A aquisição reforça o domínio da China sobre o mercado global de níquel — metal essencial para a transição energética e a fabricação de baterias. Segundo a Corex, com essa compra, mais de 60% da oferta mundial do mineral estaria sob controle de empresas ligadas a Pequim. O caso ainda está sob análise na Europa.
Goiás ganha destaque estratégico
A crescente valorização de minerais críticos como níquel, cobre, nióbio e terras raras tem colocado Goiás na vitrine da geopolítica mineral global. Em entrevista ao Mais Goiás, o presidente do Sindicato das Indústrias Extrativas de Goiás (SIEEG), Luiz Antônio Vessani, destacou que o estado possui um verdadeiro “arsenal” de minérios cobiçados por grandes potências como China, Japão, EUA e União Europeia.
“Temos tudo que eles estão buscando: cobre, que está em todos os sistemas elétricos; níquel, usado em ligas de aço inox; e o ouro, essencial para a indústria de tecnologia”, disse Vessani.
Ele também alertou para o risco de o Brasil perder competitividade caso o governo federal não reaja com firmeza à imposição de tarifas adicionais pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, incluindo minérios.
“Se os americanos encontrarem alternativas em outros países, isso pode gerar desemprego aqui. É preciso agir com rapidez”, pontuou.
Minaçu e o potencial das terras raras
Além do níquel, Goiás abriga um dos únicos depósitos de terras raras em argila iônica fora da Ásia, localizado em Minaçu. Esses minerais são fundamentais para setores de alta tecnologia, como aeroespacial, defesa e energia verde (como carros elétricos), e a região já é considerada estratégica por diversos países.
O secretário estadual de Indústria e Comércio, Joel Sant’Anna Braga, confirmou que há crescente interesse de Japão, Estados Unidos e outros países nas jazidas goianas. Segundo ele, Goiás tem potencial para se transformar em um polo global de extração e beneficiamento de minérios raros, gerando empregos qualificados e atraindo investimentos sustentáveis.
Tensão crescente
O caso da planta de Barro Alto pode ser apenas o início de um novo ciclo de disputas internacionais por ativos minerais brasileiros. O Cade já analisa os impactos concorrenciais da entrada da MMG, enquanto a Comissão Europeia avalia a possibilidade de abrir uma investigação formal. Em meio à pressão global, Goiás consolida sua posição como peça-chave no tabuleiro mundial dos minerais críticos.