Pesquisadores do Projeto AquaCerrado identificaram a presença de acrilamida, substância tóxica e potencialmente cancerígena, em peixes capturados em diferentes pontos da Bacia do Rio Paranaíba, na região de Bela Vista de Goiás. O estudo tem como foco o córrego Sussuapara e aponta níveis da substância muito acima dos parâmetros toleráveis pelo Ministério da Saúde.
A acrilamida é uma química utilizada na fabricação de produtos como poliacrilamida, colas, papel e cosméticos, além de ser um subproduto de alimentos cozidos em altas temperaturas. Embora não faça parte da lista oficial de agentes cancerígenos para humanos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alerta para riscos associados ao consumo, como mutações e danos ao DNA, além de provocar câncer em animais.
O Projeto AquaCerrado, que reúne pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade Federal de Jataí (UFJ) e outras instituições, constatou que um dos peixes analisados apresentou concentração de acrilamida 8,4 mil vezes acima do limite recomendado.
Apesar da acrilamida não ter sido detectada em níveis significativos na água, a hipótese é de que a substância se acumule de forma crônica no organismo dos peixes devido à exposição constante. Os locais com maior concentração ficam próximos à Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Bela Vista.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Semad) já iniciou avaliações para contratar um estudo mais abrangente, que possa indicar soluções para o problema. A Semad reforça que a ETE da Saneago em Bela Vista foi multada em R$ 2,7 milhões em setembro por irregularidades no tratamento e lançamento de efluentes, embora a acrilamida não tenha sido alvo da inspeção devido à limitação técnica do laboratório.
Em nota, a Saneago afirmou que o tratamento é realizado por lagoas de estabilização, usando processos naturais, e negou o uso da substância. A empresa ainda destacou que as análises apontaram poluentes em pontos anteriores à ETE, sugerindo outras fontes de contaminação.
A Semad informou que continuará monitorando a qualidade da água no córrego Sussuapara e cobrará a regularização do tratamento e da poluição da região.