Conhecido por suas praias de água doce e paisagens deslumbrantes que atraem turistas de todo o Brasil, o Rio Araguaia guarda muito mais do que belezas naturais. Sob suas águas e matas, vivem histórias e lendas passadas de geração em geração — mitos que alimentam o imaginário popular há séculos. De criaturas aquáticas a guardiões da floresta, essas narrativas misturam medo, respeito à natureza e o folclore indígena e ribeirinho.
Confira a seguir algumas das lendas mais misteriosas e emblemáticas do Araguaia.
Arranca-Línguas: o devorador noturno
Uma das lendas mais temidas nas margens do Rio Araguaia é a do Arranca-Línguas. Segundo moradores, trata-se de uma criatura enorme, mais alta que um gorila, que se alimenta exclusivamente de línguas — tanto de animais como bois e cavalos, quanto de humanos. O monstro costuma atacar durante a noite, deixando um rastro de medo e mortes. Até hoje, seu nome é citado com cautela por pescadores e moradores locais.
Rodeiro: a arraia gigante do Araguaia
Outro terror das águas é o Rodeiro — ou Bicho Rodeiro — uma arraia de proporções gigantescas que vive nas profundezas do rio. Apesar de geralmente pacífica, pode se tornar agressiva se perturbada. Há relatos de embarcações viradas e pescadores arrastados para o fundo do rio. Quando a água se agita subitamente, pescadores veteranos sabem: é hora de sair da água.
Negro d’Água: o assombro dos pescadores
Presente em diversas versões no norte de Goiás, o Negro d’Água é descrito como um ser metade homem, metade anfíbio, com pele escura e pés de pato. Ele habita rios e lagos, e é conhecido por virar canoas e assustar pescadores. Em algumas histórias, é necessário oferecer fumo ou cachaça para acalmá-lo. A lenda também tem variações, como o Caboclo d’Água, que pode proteger os rios, mas castiga quem desrespeita suas águas.
Pé de Garrafa: o caçador de línguas
Habitante das matas próximas ao Araguaia, o Pé de Garrafa é uma entidade lendária de aparência grotesca. Tem apenas um pé, com formato semelhante ao fundo de uma garrafa, um olho só e uma voz estridente. Dizem que imita vozes humanas para atrair caçadores e, quando os encontra, causa alucinações e confusão mental. Rastros estranhos e pegadas redondas na floresta são atribuídos à sua presença.
Cupendiepes: os morcegos humanoides
Entre os índios Apinajés, a lenda dos Cupendiepes fala sobre criaturas que vivem próximas à chamada Rocha do Morcego. Segundo a tradição, seriam seres com corpo humano e asas de morcego, que habitariam cavernas e, em noites escuras, sairiam para caçar. Algumas histórias afirmam que eles têm poder de se transformar em monstros semelhantes a lobisomens. A região continua envolta em mistério.
Aruanã: o peixe que virou guerreiro
Uma das lendas mais simbólicas do povo Yny-Karajá, o Aruanã era um peixe solitário e triste que vivia nas profundezas do Araguaia e sonhava em ser humano. Cansado de não pertencer ao mundo dos peixes nem ao dos humanos, fez um pedido ao deus Tupã, que o transformou em um guerreiro forte e belo — origem mitológica do povo Karajá. Até hoje, indígenas celebram o Ritual do Aruanã em noites de lua cheia, com danças e cantos em sua homenagem.
Guardas da floresta: Caipora, Curupira e Pai do Mato
Muitos confundem essas figuras do folclore, mas cada uma tem sua própria história e função protetora.
A Caipora, de origem indígena, pode ser retratada como homem ou mulher, pequena, peluda e de pele escura. Montada em um porco-do-mato, protege os animais e castiga caçadores que agem com crueldade.
O Curupira, por sua vez, é descrito como um menino ruivo com os pés virados para trás. É conhecido por deixar caçadores perdidos na mata e por usar sua aparência incomum como arma para assustar invasores.
Já o Pai do Mato é uma figura mais presente no Centro-Oeste e Sudeste. Alto, forte, coberto de pelos, lembra um eremita ou “homem das cavernas”. Age como guardião da natureza e, segundo algumas lendas, é capaz de se transformar em animal para proteger a floresta.
Com essas histórias que misturam mito, espiritualidade e medo, o Rio Araguaia mostra que não guarda apenas belezas naturais, mas também um rico patrimônio cultural e lendário que sobrevive através das vozes dos povos da região.