O uso crescente de medicamentos emagrecedores à base de GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, está provocando mudanças significativas no comportamento de consumo alimentar dos brasileiros. É o que revela uma pesquisa inédita conduzida pela Varejo 360, divulgada nesta terça-feira (16) durante a Latam Retail Show, realizada no Expo Center Norte, em São Paulo.
O levantamento analisou os efeitos econômicos desses medicamentos na indústria de alimentos — tanto no consumo doméstico quanto fora do lar — ao comparar os hábitos de compra de 246 consumidores nos 12 meses anteriores e posteriores ao início do tratamento com os fármacos.
Aumento no consumo de bebidas açucaradas e alcoólicas
Entre os resultados mais surpreendentes está o aumento no consumo de refrigerantes tradicionais (com açúcar) e cervejas por parte dos usuários desses medicamentos. O volume médio mensal de refrigerantes comuns cresceu até 56%. Outras bebidas com alto teor de açúcar, como sucos prontos (+14%), refrescos em pó (+16%) e energéticos (+19%) também registraram alta.
O consumo de bebidas alcoólicas seguiu a mesma tendência. Houve aumento nas compras de ice drinks (+37%), vinho fino (+13%), vinho de mesa (+12%), cerveja artesanal (+8%) e whisky (+8%).
Por outro lado, os refrigerantes light, diet e zero tiveram queda de consumo entre os participantes da pesquisa.
Segundo Fernando Faro, fundador e sócio da Varejo 360, os usuários podem ser divididos em dois grupos distintos:
“O primeiro grupo adota hábitos alimentares mais saudáveis junto ao uso do medicamento, o que está alinhado com o propósito do tratamento. Já o segundo grupo parece se permitir consumir alimentos menos saudáveis, acreditando que os efeitos do remédio compensarão esse comportamento”, explicou Faro à CNN Brasil.
Ele ainda destaca que os dados indicam uma divisão quase equilibrada entre esses dois perfis, com cerca de 50% dos consumidores em cada grupo.
Menos fast food e ultraprocessados
Apesar do aumento no consumo de bebidas calóricas, a pesquisa identificou uma redução nas visitas a redes de fast food, como McDonald’s e Burger King, e uma queda na compra de alimentos ultraprocessados.
Antes do início do tratamento, os usuários iam ao McDonald’s em média 1,90 vez por mês. Após o uso dos medicamentos, essa média caiu para 1,82 vez. O mesmo padrão foi observado com o Burger King, cuja frequência mensal caiu de 1,45 para 1,47 vez. A visita conjunta às duas redes também teve leve queda, de 1,79 para 1,74 vez por mês.
Já entre os produtos ultraprocessados que tiveram maior redução nas compras estão:
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Refrigerante light: -15%
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Balas: -15%
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Creme de avelã: -15%
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Barrinhas: -12%
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Mortadela e caldo industrializado: -10%
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Hambúrguer: -9%
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Sobremesa láctea e manteiga: -6%
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Maionese e leite condensado: -3%
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Salgadinhos e presunto cozido: -2%
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Biscoitos: -1%
Alimentos saudáveis também foram afetados
Curiosamente, alimentos in natura ou considerados saudáveis também registraram queda no volume de compra. Entre eles:
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Leite zero lactose integral: -25%
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Ervas desidratadas: -23%
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Legumes congelados: -22%
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Especiarias desidratadas: -18%
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Feijão: -8%
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Erva-mate: -6%
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Água de coco e azeitona verde: -1%
Segundo Faro, isso pode estar relacionado à redução geral do apetite e da quantidade de alimentos ingeridos:
“O objetivo desses medicamentos é justamente promover a saciedade. Por isso, é natural que haja uma queda no volume total de consumo, inclusive de alimentos saudáveis. Porções menores já parecem satisfazer as necessidades dos pacientes em tratamento”, afirmou.
Impacto econômico e mudanças no mercado
Pesquisas anteriores já haviam apontado que famílias que utilizam medicamentos à base de GLP-1 tendem a reduzir os gastos com alimentação fora de casa, especialmente em refeições como café da manhã e jantar.
O novo estudo reforça que o avanço desses medicamentos no mercado brasileiro está gerando transformações importantes nos hábitos de consumo alimentar, o que pode impactar diretamente setores como o varejo, a indústria alimentícia e a gastronomia.