Moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, carregaram ao menos 55 corpos até a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, nesta quarta-feira (29/10), um dia após a megaoperação conjunta da Polícia Militar, Polícia Civil e forças federais. A ação, que também atingiu o Complexo do Alemão, já é considerada a mais letal da história do estado.
Segundo o Instituto Papo Reto, os cadáveres foram localizados em uma área de mata fechada da Serra da Misericórdia, onde não houve atendimento médico emergencial. Crianças participaram do transporte. Um menino de aproximadamente nove anos ajudou a descarregar corpos da caçamba de um carro. Um dos corpos chegou decapitado; a cabeça foi entregue dentro de uma sacola.
Advogados de direitos humanos que acompanharam a retirada dos corpos relataram ferimentos consistentes com execuções. Flávia Fróes, que representa famílias da região, identificou tiros à queima-roupa, marcas de facadas, braços amarrados e corpos com sinais de tortura. Um jovem de 20 anos foi encontrado com o pulso preso por um cordão e vestígios de luta.
De acordo com testemunhas, vários mortos foram encontrados ainda com grama entre os dedos, o que, para os moradores, indica que estavam vivos no momento da captura. A cena, segundo Fróes, configura crime contra a humanidade: “Há indícios fortes de execução em massa. É uma tragédia sem precedentes.”
O governo estadual anunciou, nesta terça-feira (28/10), que 60 suspeitos morreram durante a operação, além de quatro policiais militares. Porém, o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou que os corpos expostos na praça não constam na contagem oficial. Isso eleva a suspeita de subnotificação de óbitos.
A Defensoria Pública e organizações como Justiça Global e Human Rights Watch pedem intervenção internacional e envio de peritos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos para o estado do Rio de Janeiro. O Instituto Papo Reto afirmou que a exposição pública dos corpos foi uma exigência das famílias para denunciar a omissão do Estado.
Moradores se aglomeraram ao redor dos corpos na Praça São Lucas em busca de parentes desaparecidos. Uma mãe gritou ao reconhecer o filho: “Polícia assassina! Cadê meu filho?” Outras mulheres caíram ao chão, em desespero, após identificar amigos, filhos e maridos entre os mortos.
O clima é de comoção e revolta. Para o ativista Raull Santiago, a madrugada do dia 29 entrou para a história do terror no Brasil. “Esse massacre tem características de extermínio. É preciso resposta internacional”, declarou.
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