Pequim (China) – O ex-ministro da Agricultura e Assuntos Rurais da China, Tang Renjian, foi condenado à pena de morte com suspensão de dois anos por corrupção passiva. O escândalo envolve o recebimento de mais de 268 milhões de yuans (cerca de R$ 201 milhões) em subornos ao longo de sua carreira entre 2007 e 2024. E enquanto na China o político corrupto vai direto para a cadeira do réu (e possivelmente para a cadeira elétrica), fica a pergunta: imagina se essa lei fosse aplicada no Brasil? A fila de políticos condenados seria mais longa que fila de restituição do Imposto de Renda.
Segundo a agência estatal Xinhua, Renjian teve a pena suspensa por dois anos — uma espécie de “último aviso” — por ter confessado os crimes, colaborado com a devolução do dinheiro e demonstrado arrependimento. Apesar do benefício, o ex-ministro perdeu todos os direitos políticos de forma vitalícia, e seus bens foram integralmente confiscados.
A sentença foi proferida pelo Tribunal Popular Intermediário de Changchun, na província de Jilin. A corte entendeu que Renjian cometeu suborno em larga escala, usando sua influência para favorecer empresas em licitações, aprovações e contratos, em troca de cifras milionárias.
De ministro a exemplo nacional
Renjian iniciou sua carreira nos anos 1980 e chegou ao cargo de ministro da Agricultura em dezembro de 2020, após décadas ocupando funções dentro da máquina estatal. Mas a ascensão foi interrompida em maio de 2024, quando as investigações foram formalmente abertas. Desde então, o agora ex-ministro passou a figurar como mais um alvo da campanha anticorrupção promovida por Xi Jinping, que já coleciona vítimas dentro do Partido Comunista Chinês.
A campanha, apelidada pelo regime de combate a “tigres e moscas” — ou seja, de altos dirigentes a servidores de base — já pegou gente grande: um dos casos mais emblemáticos é o do ex-chefe de segurança doméstica Zhou Yongkang, condenado à prisão perpétua em 2015, após embolsar, segundo a Justiça chinesa, o equivalente a R$ 97 milhões.
Corrupção: ameaça maior que o Ocidente?
Xi Jinping, que considera a corrupção a “maior ameaça” ao Partido Comunista, vem usando mão de ferro para aplicar as chamadas oito regras de austeridade — medidas que vão desde redução de comitivas em viagens a cortes em gastos com moradia de oficiais públicos. A ideia é mostrar que nem mesmo os “intocáveis” estão acima da lei.
Diferente de outros países, onde políticos acusados de corrupção ganham programas de entrevistas, lançam livros e até se elegem de novo, a China tem adotado uma abordagem mais… digamos, final.
E no Brasil, como seria?
Se um esquema desses fosse julgado com os mesmos critérios chineses por aqui, quantos ex-ministros, deputados e governadores estariam prestes a ganhar passagem só de ida para o corredor da morte? Difícil dizer — até porque no Brasil, “pena de morte” para político corrupto costuma ser só no noticiário, e mesmo assim, com recurso.
Enquanto isso, seguimos acompanhando escândalos que acabam em pizza, com direito a cobertura, borda recheada e reeleição.