Internacional

Caos climático: gráficos mostram que efeitos do aquecimento global estão mais intensos em 2024; entenda | Meio Ambiente

Entenda em 10 gráficos o que está acontecendo com o planeta

2024 ainda está longe de terminar, mas um conjunto de gráficos atualizados com os dados mais recentes disponíveis gritam que o ano será marcante na trajetória da emergência climática.

Abaixo, nesta reportagem, o g1 reuniu 10 gráficos essenciais para entender a crise do clima. Quatro deles apresentam o cenário deste ano, mostrando como os efeitos do aquecimento global estão ainda mais intensos nos oceanos, na atmosfera e nas camadas de gelo.

Nesta reportagem, você vai ver:

  • Os quatro gráficos de 2024 em sequência.
  • Em seguida, a explicação para cada um deles.
  • As demais ilustrações essenciais para entender o caos climático.
  • A explicação sobre como chegamos ao atual momento e quais são as nossas perspectivas.

Os quatro gráficos de 2024 explicados em 4 pontos

  1. Temperatura do ar: desde junho do ano passado, estamos quebrando recordes de temperatura mensal da superfície do ar. A temperatura média global dos últimos doze meses (maio de 2023 a abril de 2024) é a mais alta já registrada, estando 0,73°C acima da média de 1991-2020 e 1,61°C acima da média pré-industrial de 1850-1900.
  2. Temperatura da superfície do mar: maio é o décimo terceiro mês consecutivo em que a temperatura da superfície do mar tem sido a mais quente nos registros de dados do observatório europeu Copernicus para o respectivo mês do ano.
  3. Degelo na Antártida: em 2024, a extensão do gelo marinho antártico atingiu um dos níveis mais baixos já registrados pelo terceiro ano consecutivo. Em 20 de fevereiro, a redução de 200 mil km² superou o recorde do ano anterior.
  4. Degelo no Ártico: as altas temperaturas contribuem para uma das menores extensões de gelo marinho já observadas na região: cobertura está abaixo do registrado em maio de 2012, sugerindo a possibilidade de um novo recorde mínimo este ano.

Olhando para o gráfico acima não é difícil imaginar o que está acontecendo com o nosso planeta. Se as cores vermelhas nele representam os anos mais quentes e as azuis os mais frios, nesta visualização fica evidente que a temperatura global está em ascensão – e de maneira significativa nos últimos anos.

Chamado de “Climate Stripes” (do inglês, listras climáticas), esse gráfico foi criado pelo cientista climático Ed Hawkins, da Universidade de Reading, no Reino Unido.

Ele foi apresentado publicamente pela primeira vez em 2018 e mostra o aumento da temperatura global desde a Revolução Industrial. E em 2023, as temperaturas foram tão altas que ultrapassaram a escala de representação das listras do aquecimento. Em janeiro Hawkins compartilhou sua atualização do gráfico e chegou até a comentar que “precisaria de uma nova cor” para ilustrar essa disparidade que foi o último ano.

A listrar do aquecimento global, projetadas nos Penhascos brancos de Dover, falésias que formam parte da costa inglesa em frente ao Estreito de Dover e a França. — Foto: University of Reading/Divulgação

Mas o que cada faixa do gráfico revela exatamente? Cada listra representa a temperatura média global de um ano, nesse período que vai de 1850 a 2023. Assim, as listras vermelhas são os anos mais quentes que a média de 1971 a 2000. Já as listras azuis são os anos mais frios que isso.

📝 Os cientistas chamam isso de anomalia de temperatura. Em outras palavras, é um indicador que mostra quanto a temperatura se desvia de uma determinada média histórica.

Nesse caso, Hawkins conta que escolheu esses anos (1971 a 2000) como referência porque esse período representa um “ponto médio” do aumento da temperatura global, ou seja, o intervalo logo antes das mudanças climáticas se tornarem mais intensas e evidentes.

Já o gráfico acima traz uma outra forma de observar esse aumento na temperatura global, apresentando os dados em uma escala mensal.

Desta vez, as listras se referem a diferença da temperatura do ar na superfície terrestre e da água do mar em relação à média de 1951-1980, compilados pelo Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa (GISS, na sigla em inglês), que analisa uma série de medições de temperatura de estações meteorológicas espalhadas pelo mundo.

“Boas visualizações permitem que as pessoas tenham uma resposta mais visceral aos dados, e assim podem ser mais eficazes quando acontecimentos importantes estão ocorrendo no mundo real”, diz ao g1 o climatologista britânico Gavin Schmidt, diretor do GISS.

Como exatamente chegamos até aqui

A resposta é simples, quando queimamos combustíveis fósseis liberamos na nossa atmosfera quantidades significativas de dióxido de carbono (CO2), o principal gás do efeito estufa, que absorve e irradia calor.

Desde a Revolução Industrial no século XVIII, quando passamos a queimar grandes quantidades de combustíveis fósseis, esta instabilidade está em um curso cada vez mais perigoso.

“Basicamente, 88% dos gases de efeito estufa emitidos nos últimos 10 anos provêm de combustíveis fósseis. Então, podemos dizer que 88% da responsabilidade pelas mudanças climáticas dos últimos 10 anos recai sobre essas fontes”, diz Luciana Gatti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) especialista em emissão de carbono.

Como resultado, as concentrações atmosféricas de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global causado pelo homem vem atingindo níveis sem precedentes.

Em 2022, segundo a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), as concentrações médias globais de dióxido de carbono (CO2), o gás de efeito estufa mais abundante na Terra, ultrapassaram em mais de 150% os níveis da era pré-industrial (definida pelo ano de 1750), alcançando o pico de 417,9 ppm (partes por milhão – o número de moléculas do gás a cada milhão de moléculas de ar).

A ONU publica um relatório com esses números em novembro, geralmente com um ano de atraso (por isso os dados são de 2022), mas no gráfico acima, que tem níveis diários de CO2 registrados no Observatório Mauna Loa, no Havaí – uma das principais referências para essa medição – já é possível ver que 2023 também deve apontar para uma taxa recorde, perto dos 420 ppm.

Licypriya Kangujam, uma ativista climática indígena da Índia, segura uma faixa com os dizeres “Acabem com os combustíveis fósseis. Salvem nosso planeta e o nosso futuro”, em um protesto durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de Dubai, a COP 28. — Foto: REUTERS/Thomas Mukoya

As temperaturas estão subindo de forma sem precedentes devido às nossas emissões de combustíveis fósseis, a principal hipótese é essa.

— Carlos Nobre, climatologista e um dos principais especialistas em mudanças climáticas do mundo.

Mas o que pode parecer uma surpresa para alguns é que todos os 10 anos mais quentes que temos registro ocorreram na última década (2014-2023).

No gráfico acima, dá para ter uma clara ideia disso. Ele mostra a temperatura anual da superfície da Terra de 1800 a 2023 comparada com a média de 1951 a 1980.

Nele, as barras avermelhadas, que mostram os anos mais quentes, começam sua ascensão contínua em 1978 e vão ficando cada vez mais altas nos últimos 10 anos.

Já o outro gráfico acima, do Copernicus, mostra esse mesmo panorama de uma forma diferente. Ele apresenta o número de dias em que a temperatura do planeta ultrapassou (em mais de 1°C) a média de 1850-1900, o período pré-industrial.

Antes de 2015, nenhum dia do ano registrava taxas de temperatura acima de 1.5°C. No entanto, a análise do gráfico revela uma tendência alarmante nos últimos 10 anos: cada vez mais dias estão superando essa marca. O ano de 2023 foi especialmente preocupante, marcando um recorde com 173 dias registrando temperaturas acima de 1.5°C.

Francyne Elias-Piera, PhD em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universitat Autònoma de Barcelona e especialista nas regiões polares alerta: “Para mitigar (os efeitos das mudanças climáticas), o essencial ainda é a redução das emissões de gases de efeito estufa! Precisamos exigir políticas climáticas ambiciosas, transição para fontes de energia renovável e práticas agrícolas sustentáveis”.

“Além disso, a conservação de habitats, a restauração de ecossistemas e a adaptação às mudanças climáticas são essenciais para fortalecer a resiliência das regiões polares. Pois, como sempre digo, tudo está conectado e se cuidarmos do Brasil, estaremos cuidando das regiões polares”, diz Francyne.

ONU alerta que mundo entrou na “era da fervura”

Fonte

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos relacionados

Internacional

Maduro declara guerra às redes sociais

Nos últimos tempos, o presidente venezuelano Nicolás Maduro, anteriormente conhecido por sua...

Internacional

Chinês sequestrado ao nascer reencontra pais depois de 37 anos

O reencontro de um homem de 37 anos, identificado apenas pelo sobrenome...

Internacional

Brasileira morre após cair do 17º andar de um prédio no Vietnã

A brasileira Rosimeiry Franco, de 30 anos, morreu após cair do 17º...

Internacional

Biden, 81, quer usar debate para mostrar capacidade para 2º mandato

Biden tem um andar lento, comete deslizes verbais e tem aparições públicas...