Estados Unidos demonstram interesse estratégico nas reservas de terras raras de Goiás

Em tempos de corrida por autonomia tecnológica e energética, o mundo voltou sua atenção para um grupo discreto, porém essencial, de elementos químicos: as terras raras. Esses 17 elementos da tabela periódica — entre eles neodímio, disprósio, lantânio e térbio — são indispensáveis para a produção de turbinas eólicas, veículos elétricos, smartphones, baterias e sistemas militares avançados.

E é em Goiás que o Brasil guarda parte significativa de sua vantagem competitiva. O município de Minaçu, no norte do estado, é atualmente a única localidade com uma mineradora de terras raras em operação comercial no país. Trata-se de um ativo estratégico em uma disputa global, em especial com a China — responsável por cerca de 70% da produção e mais de 85% do refino desses elementos.

Minaçu: pioneirismo nacional em terras raras

A planta de Minaçu extrai e beneficia principalmente monazita, um minério rico em elementos de terras raras como neodímio, lantânio e cério. O processo, altamente técnico e ambientalmente delicado, envolve separação química, refino com solventes e controle de resíduos radioativos, já que a monazita pode conter tório e urânio.

Além do valor econômico, a importância da unidade vai além da produção: ela coloca o Brasil no seleto grupo de países capazes de atuar em uma das etapas mais complexas da cadeia — o refino. Isso se torna ainda mais relevante em um cenário em que os Estados Unidos buscam parceiros confiáveis para reduzir sua dependência da China, e o Brasil, especialmente Goiás, aparece como um candidato natural.

Iporá: nova fronteira de exploração mineral

Se Minaçu é um exemplo do que o Brasil já consegue fazer, a região de Iporá, no oeste goiano, representa o que ainda pode ser alcançado. Estudos geológicos recentes apontam a presença de minérios com alto teor de elementos estratégicos, especialmente em formações de xenotima e bastnasita — dois dos principais portadores de terras raras.

Ainda em fase de mapeamento e pesquisa, a área atrai atenção de investidores e agências internacionais. O Departamento de Estado dos EUA, em parceria com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), já manifestou interesse em avaliar e apoiar iniciativas de prospecção e beneficiamento em países aliados, e Iporá está no radar.

O que são, afinal, as terras raras?

Apesar do nome, as terras raras não são exatamente raras — o problema é que são difíceis de encontrar em concentrações economicamente viáveis. Elas incluem 15 elementos da série dos lantanídeos (como cério, neodímio, térbio) e dois outros quimicamente semelhantes: escândio e ítrio.

Seu uso vai do cotidiano — como em celulares, fones de ouvido e TVs — até áreas de segurança nacional, como satélites, radares, drones, mísseis guiados e sensores militares. Além disso, são fundamentais para a transição energética, pois fazem parte de motores elétricos, turbinas eólicas e baterias avançadas.

Geopolítica das terras raras: o xadrez do século XXI

A hegemonia da China no setor não se dá apenas pela abundância mineral, mas principalmente por seu domínio da cadeia de valor: do minério ao componente final. O país já usou esse poder como ferramenta política — como na crise com o Japão em 2010, quando limitou exportações por razões diplomáticas.

Para os Estados Unidos, garantir acesso seguro a essas matérias-primas tornou-se questão de segurança nacional. O Brasil, que possui cerca de 23% das reservas globais conhecidas, é uma peça-chave no redesenho dessa geopolítica, especialmente se conseguir ampliar sua capacidade de refino e verticalizar sua cadeia de produção.

Desafios e oportunidades para Goiás

O maior desafio está na etapa de separação química dos elementos, que exige alta tecnologia, investimentos e rigor ambiental. Por outro lado, com o apoio técnico e financeiro de países interessados, como os EUA, Goiás pode se tornar um hub latino-americano de terras raras, atraindo indústrias de alta tecnologia e criando empregos qualificados.

Além disso, a instabilidade do mercado global, agravada por tensões entre China, EUA e Europa, abre espaço para que novos players ganhem destaque. Se bem explorado, o potencial de Iporá, aliado à estrutura já existente em Minaçu, pode transformar Goiás em protagonista da nova economia verde e digital.

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